A Cartinha Mágica
Era Véspera de Natal e na Rua das Camélias as luzes já começavam a brilhar
nas janelas das casas e o cheiro de biscoito recém-saído do forno se espalhava
pelo ar. Mapinho caminhava alegremente ao lado de seus amigos Nina, Bia e Leco
discutindo o assunto mais importante do dia: o que queriam ganhar de presente.
— Eu quero uma bola nova! — anunciou Mapinho, driblando um adversário
imaginário.
— E eu um estojo cheio de lápis de cor! — disse Nina, imaginando seus
desenhos ganhando vida.
— Eu adoraria um livro sobre os animais — completou Leco, como se fosse
a coisa mais óbvia do mundo.
Bia, pensativa, olhou para o céu e respondeu:
— Acho que eu ainda não sei… talvez algo que dure pra sempre.
Entre risadas e ideias, seguiram pela calçada em direção à casa de Mapinho,
onde combinara de escrever juntos uma cartinha para o Papai Noel. Mas, no meio
do caminho, algo chamou a atenção deles.
Na esquina iluminada pelas luzes de Natal, o grupo de amigos parou em
silêncio. Do outro lado da rua, uma família em situação de rua se abrigava sob a
marquise de uma loja. O pai partia com cuidado um pedaço de pão, dividindo-o em
quatro, enquanto a mãe ajeitava um cobertor ralo sobre pedaços de papelão e duas
crianças pequenas observavam encantadas a vitrine colorida de uma loja de
brinquedos, onde bonecas sorriam e carrinhos brilhavam sob o pisca-pisca. O
contraste entre o brilho das luzes e o vazio daqueles olhares apertou o peito dos
amigos, que, pela primeira vez naquela noite, esqueceram o que queriam ganhar e
começaram a pensar no que poderiam oferecer.
Após uns instantes em silêncio refletindo, Bia murmurou:
— Eles não têm uma árvore… nem luzes.
— Talvez não terão nem uma ceia… — completou Nina, cabisbaixa.
Mapinho sentiu um aperto no peito e disse decidido:
— Vamos pra casa, acho que já sei o que podemos pedir.
Os quatro correram até a casa de Mapinho e lá chegando sentaram todos em
volta de uma mesa, pegaram uma folha de papel e com um lápis, Nina começou a
escrever com ajuda de seus amigos uma cartinha, ao final assinaram juntos: Os
Guardiões da Árvore.
Pegaram a cartinha, guardaram-na em um envelope e foram em direção à
cafeteria de Anésio e Margarida, o lugar já estava silencioso e vazio, apenas a luz do
poste iluminava a fachada e projetava a sombra da grande árvore sobre o chão. Lá
chegando, Mapinho colocou a cartinha cuidadosamente junto ao tronco da árvore
e sussurrou algo bem baixinho. Os amigos se despediram e cada um seguiu seu
caminho de casa.
Naquela mesma noite, mais tarde, o vento soprou, parecia vir de dentro da
própria árvore, fazendo as folhas se moverem de forma ritmada, como se
respirassem. Vagalumes começaram a surgir aos poucos, pontinhos de luz que
dançavam ao redor do tronco, subindo até a copa num balé silencioso. A cartinha
que repousava aos pés da árvore, passou a brilhar em um tom dourado, discreto no
início e ganhando cada vez mais intensidade. A luz cresceu, tomou conta das raízes,
do tronco, dos galhos, até que por um breve instante, tudo ao redor foi engolido por
um clarão suave, como se a noite tivesse virado dia.
Na manhã seguinte, os amigos se reuniram em frente à casa de Mapinho e
correram em direção à árvore, onde haviam deixado a cartinha. Quando chegaram,
mal podiam acreditar no que seus olhos viam. A cafeteria de Margarida e Anésio
estava cheia de mesas repletas de comida gostosa e chocolate quente, em volta
das mesas, várias famílias reunidas, rindo, cantando e trocando presentes, e entre
elas, aquela família que encontraram na noite anterior.
No centro de tudo, a grande árvore estava enfeitada com bolas, laços e
estrelas, os vagalumes piscavam e dançavam alegremente em torno dela. Os
amigos se entreolharam, sorrindo e Nina falou com orgulho:
— Parece que Papai Noel atendeu ao nosso pedido!
— Ou talvez tenha sido ela — disse Mapinho, apontando para a árvore.
E, como se confirmasse o segredo, a árvore piscou discretamente,
espalhando algumas luzinhas douradas pelo ar. Os quatro amigos correram e se
juntaram aos demais na comemoração. Naquele Natal, entenderam que mais
importante do que pedir, era oferecer, e no final, todos saíram ganhando!
